segunda-feira, 16 de julho de 2012

Trabalhos Com Educadores do Sesi MS








O Diálogo Como Princípio Norteador do Processo Ensino - Aprendizagem


O Diálogo Como Princípio Norteador do Processo Ensino - Aprendizagem

Quem defende a Educação para o Pensar? Quem educa o educador e para onde vai a abordagem emancipatória da filosofia como a compreensão dos urgentes desafios da condição infantil na realidade atual?
                                                                                                                                            
Tradicionalmente é dito que a educação prepara para a vida. Em outras palavras, serve para tornar crianças e adolescentes, adultos dentro de um padrão, de um modelo. Partimos então do pressuposto - as crianças são tolas, não conhecem as regras, precisam se integrar ao mercado de trabalho, na visão do mundo adulto. Será que educar não é fazer os adultos voltarem a ser criança? As crianças continuarem a ser criança na forma de ver o mundo? No maravilharem-se diante dos fatos e ideias? Na investigação, no espanto por entender como e por que as coisas, a natureza, funcionam desta forma e não de outra? Precisaríamos de uma estrutura escolar que pudesse contemplar as diretrizes filosóficas igualitárias, sendo compreendida como novas oportunidades históricas de humanização da sociedade:
A escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado, pela mediação da escola dá-se a passagem do saber espontâneo ao saber sistematizado, da cultura popular à cultura erudita (...). Cabe pois, não perder de vista o caráter derivado da cultura erudita por referência à cultura popular cuja primazia não é destronada. Sendo uma determinação que se acrescenta, a restrição do acesso à cultura erudita conferirá àqueles que dela se apropriam, uma situação de privilégio, uma vez que o aspecto popular não lhes é estranho. A recíproca, porém, não é verdadeira, os membros da população marginalizados da cultura letrada tenderão a encará-la como uma polêmica estranha que os desarma e domina. (SAVIANI, 1984)
            A aprendizagem acontece sempre e em todo lugar. Portanto esta atividade humana não está restrita a somente um espaço que lhe atribuímos. Como educadores sabemos que a tendência é que a aprendizagem  aconteça longe do espaço sala de aula. Porém, a escola é um lugar que os alunos gostam, sentem prazer e alegria de estar com os colegas, de extravasar suas energias, emoções, encontrar-se como pessoa em um grupo. O que não desperta, não manifesta muito interesse é o de estarem em sala de aula.
            Há exceções, os “bons alunos” ainda manifestam um respeito por este espaço, porém, não deixam de pensar e sentir que “o essencial encontrasse num outro lugar, em outro tempo”. Assim a aprendizagem pode acontecer num grupo de amigos, jogando videogame, assistindo TV, navegando na internet. Quanto tempo nestas e outras atividades? Com certeza muito mais que os minutos ou do período do dia em que está em sala de aula.
            Já os “alunos não tão bons” anunciam de várias maneiras (ruidosamente, indiferentes, apáticos ou inquietos) que o estar neste espaço de aprendizagem com lições, exercícios, regras de comportamento, não lhes atrae mais e, sonham e lutam para estar “em outro lugar”. No pátio, no cinema, no computador, aprendendo algo prático, prazeroso e atual.
            É notória em nossa época as modificações dos modelos, das visões de mundo. Os avanços tecnológicos, biológicos, de informações, começam a ocasionar mudanças na sociedade. Mudam-se os paradigmas, os modelos.
            Na Educação temos alguns paradigmas tradicionais:
1. Educar é transmitir conhecimentos por parte daqueles que sabem para aqueles que não sabem.
2. Temos conhecimentos do mundo e estes são inequívocos, explicáveis e não ambíguos.
3. Pelas disciplinas desenvolvem-se os conhecimentos que não tem ligações, porém juntos completam o que se deve conhecer.
4. O professor tem a autoridade no processo porque conhece e por isso os alunos aprendem.
5. Cabe aos alunos absorverem os conhecimentos do professor – “uma mente bem educada é uma mente bem estruturada”.
            Nos paradigmas reflexivos temos outras posturas dos educadores e de toda estrutura escolar, levando em consideração outros fatores, tais como:
1. O processo educativo acontece em uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa, orientada pelo professor com a intenção de desenvolver a compreensão e o julgamento adequado.
2. Incentivar os alunos para pensarem sobre o mundo, vendo-o como ambíguo, equívoco e inexplicável.
3. As disciplinas não são nem completas, nem coincidentes, os conhecimentos dos temas propostos são bastante problemáticos.
4. O professor é maleável e falível com relação ao conhecimento.
5. Os alunos podem e devem pensar e refletir, desenvolvendo cada vez mais a razão das relações contidas nos temas investigados.
            Uma educação centrada nos paradigmas reflexivos, a qual é a intenção da Educação para o Pensar, supõe uma busca por investigação, discussão, reflexão e ação. Alunos e professores questionam-se entre si, defende-se que os alunos pensam e todos participam da Comunidade de Aprendizagem Investigativa. Em uma educação com os paradigmas padrões, os professores questionam os alunos, considera-se que os alunos pensam quando estes aprendem o que lhe é ensinado.
Como educadores queremos que nossos alunos e filhos consigam participar deste mundo como autores. Acreditamos no valor de uma educação que leva à reflexão. Crer nisso é querer que nossas crianças sejam pensadores autônomos, que pensem por si mesmos, que sejam gestores e não só repetidores do que outras pessoas dizem ou pensam, que sejam solidárias. Portanto, “Educar para o Pensar: Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens” buscando um pensar autônomo e emancipado que capacite os alunos a:
- elaborarem julgamentos baseados em critérios escolhidos por sua própria conta, a partir das constatações pessoais e racionais, socializados na Comunidade de Aprendizagem Investigativa;
- formarem sua própria visão de mundo e desenvolvam concepções acerca do tipo de indivíduo que querem ser e do tipo de mundo em que pretendem viver.
         A idéia de autonomia pode estar associada, infelizmente, com a idéia de um tipo de individualismo acentuado. Uma espécie de auto-suficiência relativista. Porém, o modelo de educação reflexiva que buscamos é com certeza, social e comunitário. Articulando as diferenças causadoras de atritos, quer desenvolver argumentos para que as reivindicações possam ser sustentadas. Assim, através da deliberação, poderemos obter compreensões mais amplas, que permitirão um julgamento mais objetivo.
         O nosso desejo é termos pensamentos de qualidade e é isso que queremos nas escolas. Inúmeros estudos e observações levaram a constatar que os alunos pensam da maneira como seus professores ensinam. Porém, são poucos os estudos que mostram um quadro claro de como os professores devem ensinar para que os estudantes pensem melhor, da maneira como seres humanos em busca de integração deveriam pensar.
         Neste aspecto, a Filosofia é uma das disciplinas (junto com todas as outras é claro) que melhor desenvolve a mente através do raciocínio aperfeiçoado, da formação de conceitos, da análise da realidade, da busca de uma postura ética para uma vivência política e um aprimoramento estético da vida. Pensar com melhor qualidade significa pensar melhor a linguagem, aprimorar o raciocínio, analisar as situações, ampliar os ideais solidários. Por séculos, esta tem sido tarefa da Filosofia.
         Quando, através da prática filosófica emancipatória, a escola reflexiva procura desenvolver o raciocínio, o que ela pretende desenvolver é um raciocínio que:
- possa ser formulado discursivamente, aberto a todos e passível de discussão;
- seja submetido a critérios de avaliação (raciocínio válido e não válido);
- possa ser ensinado, socializado em todas as suas formas. Esse raciocínio irá exigir:
. a utilização de inferências bem fundamentadas;
. a apresentação de razões convincentes;
. a revelação de suposições latentes;
. a determinação de classificações e definições defensáveis;
. a organização de explicações, descrições e argumentos coerentes.
         Desta constatação podemos inferir que as habilidades de raciocínio devem ser ensinadas em um contexto de uma disciplina humanística, para evitar que as habilidades sejam mal empregadas. A disciplina comprometida com o fomento da investigação humanística em relação a conceitos problemáticos, porém significativos, seria a mais adequada a essa tarefa. Portanto, é a Filosofia como um todo, com toda a sua história e temáticas, que deve ser explorada. Não acreditamos pela implantação pura e simples do estudo de habilidades de raciocínio no currículo de Ensino Fundamental e Médio. Guiando-se por uma área de conhecimento que traz consigo uma bagagem de mais de dois mil anos, que trata das questões mais fundamentais do ser humano, a chance de seguir um caminho proveitoso, sem se perder nos ventos das novidades dos dias atuais, é muito maior.
         Buscar uma cultura do pensar em sala de aula é fazer referência a uma ambiente em que várias forças – linguagem, valores, expectativas, hábitos... venham funcionar em conjunto no sentido de expressar e reforçar o empreendimento do bom e bem pensar. Numa cultura do pensar em comunidade, o bom e o bem pensar estão em todo lugar, por isso todos se esforçarão para serem críticos, criativos e criteriosos, tendo neste comportamento, forte apoio do ambiente da aprendizagem.
         Como isto pode acontecer? É possível dar novo significado ao que professores e alunos entendem por sala de aula? Será que este espaço pode ser entendido e reverenciado de outra maneira?
         Querer que o espaço sala de aula seja muito mais que um lugar de aprendizagem passiva, um local onde o conhecimento já venha pronto, onde a relação entre as pessoas é de disputa e de imparcialidade, é querer que a sala caminhe para ser uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa de que forma?
- Onde alunos e professores dividem opiniões com respeito;
- criam questionamentos a partir dos diversos pontos de vista;
- buscam boas razões às opiniões dadas;
- auxiliam-se para entenderem o significado que está sendo afirmado;
- procuram identificar o que cada um pensa e como pensa.
         Desta forma, o pensar em sala de aula, como um desejo e aspiração de uma educação reflexiva, não pode aceitar a organização curricular das disciplinas como sendo algo claro e inflexível. Antes o currículo deveria priorizar aspectos dos conteúdos que não são resolvidos e problemáticos. Assim poderia haver uma disposição por parte dos alunos e professores para a formação da Comunidade de Aprendizagem Investigativa.
         O Programa “Educação para o Pensar: Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens” quer os alunos e professores pensem nas diferentes falas e entendimentos que as diversas disciplinas representam. Portanto não basta aprender o que acontece na história devemos desenvolver um pensar histórico; nem somente saber os conhecimentos da ciência, da matemática..., mas desenvolver um pensar científico, um pensar matemático e assim por diante, para o melhor entendimento da realidade.
         Busca também desencadear um autêntico diálogo, e este ocorre quando cada um dos participantes realmente tem em mente o outro, em sua existência presente e específica e volta-se para estes com a intenção de estabelecer uma relação mútua e estimulante, respeitando o momento do outro e também de si mesmo.
         Defende uma educação reflexiva em todos os segmentos escolares buscando a autonomia do aluno e do professor. Portanto pensadores autônomos, que “pensam por si mesmos”, que não repetem simplesmente o que outros dizem ou pensam, mas estão aptos a fazerem seus próprios julgamentos, que têm sua própria visão de mundo e o desejo do que querem que o mundo seja.
         Almeja com o auxilio da investigação filosófica, redimensionar o papel das escolas, que são apontadas como não aptas pois os conhecimentos dos alunos estão cada vez mais deficientes. Conhecimentos que em sua sustentação, muitas vezes são quase totalmente acrítico, com uma reflexão destituída de imaginação. Nesta escola, com alunos neste nível, dificilmente irão se transformar em cidadãos reflexivos, o que uma democracia exige.
         Como conseguir que tenhamos uma Educação para o Pensar em sala de aula? Uma escola em que haja uma cultura do pensar em todos os momentos e em todos os espaços? Buscando construir a Comunidade de Aprendizagem Investigativa dentro da estrutura escolar. Isto requer que todos (professores, alunos e pais) tenham algumas atitudes. Falar de uma Educação para o Pensar tendo como auxílio a Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens é necessário algumas pré-disposições. Em outros termos, transformar este espaço num ambiente aonde esteja presente uma cultura do pensar, requer entre outras coisas:
- Um vocabulário para o pensar, isto é, o uso de termos e conceitos usados na sala de aula para se falar sobre o pensar. O uso da linguagem funcionando como incentivo para pensar em um nível mais alto;
- um querer pensar, aqui se encontram as atitudes, os valores e os hábitos mentais dos alunos e professores com relação ao pensar e têm a ver também com o ambiente da sala de aula para promover padrões produtivos de conduta intelectual;
- um constante reconsiderar, aqui entendido como o pensar que as pessoas elaboram sobre os seus próprios processos de pensamento e dos seus colegas, mostrando a forma pela qual a cultura da sala de aula incentiva ou não os alunos e professores a assumirem o controle do seu pensar de modo criativo e eficaz;
- construir alternativas, levando as pessoas a construírem estratégias de pensamento em resposta aos desafios do pensar e da aprendizagem;
- uma busca de um conhecimento mais profundo, onde alunos possam ir além do conhecimento factual. Desta forma consigam um conhecimento e o saber fazer relevantes para resolver problemas, de utilizar evidências e de realizar investigações nas várias disciplinas;
- a capacidade da aplicação de conhecimentos e estratégias de um contexto para outro, a exploração das formas pelas quais as áreas de conhecimento aparentemente diferentes estão ligadas umas às outras.

Educandos e Educadores Buscando uma Educação para o Pensar
         É possível constatar que a Filosofia entre nós requer um novo rumo inspirador, superando a postura puramente verbal e descontinua, marcado muitas vezes por fazer uma Filosofia diletante, quando não muito repete tão somente os discursos e ideias. Estamos em um tempo que carece de utopias, principalmente no momento em que as ideias do consumo, do culto hedonista da mercadoria, da alienação, da busca do prazer espetacular pelas sensações. Pensar e fazer pensar, nesta realidade, é sempre uma postura revolucionária.
         A história de duas décadas e meia de existência do Centro está repleta de muita atuação, reflexão e produção, junto às escolas, orientando e discutindo com milhares de professores, de todas as áreas do conhecimento, em várias centenas de cursos e assessorias filosóficas pelo país, com uma defesa contundente da Educação Reflexiva. Neste intento, a ênfase dada e como uma característica marcante, foi a postura de que formamos e fazemos um trabalho em equipe, onde é de suma importância a socialização dos saberes para podermos construir um caminho próprio.
         A defesa de uma Educação para o Pensar é hoje um tema que está presente na grande maioria das reflexões educacionais. Desta forma, quando iniciamos um curso de Investigação Filosófica, utilizando nosso fio condutor, ou fazemos uma assessoria filosófico-pedagógica em uma escola ou a professores, temos presente que aqueles que estão nos ouvindo podem estar com várias expectativas que, não necessariamente são as que o Centro de Filosofia Educação para o Pensar defende.
         O que o Centro defende através de sua estrutura, dos cursos de aperfeiçoamento e de investigação filosófica, dentro de uma aprendizagem continuada, das assessorias sistemáticas aos colégios, é a implantação de aulas de Filosofia em todos os segmentos do currículo escolar. Esta implantação poderá ser com aulas semanais colocadas no currículo ou outra modalidade que a escola vier a organizar (atividade extra-classe). Dos professores e conseqüentemente dos alunos esperamos que:
- Utilizem as habilidades de raciocínio (classificar, comparar, relacionar, deduzir, inferir, concluir e outras ...) tendo presente que não são aprendidas fora de contexto, isoladas, mas utilizando-as nas várias disciplinas e nas discussões filosóficas;
- aprendam a fazer relações entre ideias, fatos, conteúdos, experiências e as diversas visões de mundo;
- busquem constantemente apreender as relações implícitas e explícitas apresentadas nos assuntos e nas ideias;
- valorizem o processo de investigação e a discussão do grupo relacionada aos assuntos apresentados e as ideias filosóficas, sem menosprezar o produto dela resultante ou os resultados;
- desenvolvam a aprendizagem relacionada ao investigar, tanto individualmente como em grupo e, percebam as alternativas diante das possibilidades do conhecimento;
- reconheçam a importância do questionar a si e ao grupo, levando em consideração os outros pontos de vista, colaborando desta forma para a construção da Comunidade de Aprendizagem Investigativa em sala de aula, transformando-a num espaço onde se desencadeie uma cultura do pensar;
- entendam que o conhecimento da realidade tem três dimensões que precisam ser consideradas: A dimensão crítica, que leva ao perguntar o que é?, a dimensão criativa, que leva a perguntar como pode ser conhecido? e a dimensão criteriosa, que  leva a perguntar o que pode ser construído? com o uso do que se aprende sobre o mundo;
- exercitem a dialética socrática, percebendo que todo nosso saber é provisório – “só sei que nada sei”, interiorizando os procedimentos de investigação;
- valorizem a importância de cultivar em todos os momentos escolares, em todos os espaços a atitude proveniente da cultura do pensar – investigar, discutir, refletir, reconsiderar, agir;
- prezem por adquirir uma postura ponderada (pondos – peso) e de bom senso diante dos fatos, das ideias e da ação.
         É importante que os professores, desde o primeiro contato e, os alunos desde as primeiras aulas de Filosofia, aprendam a importância das regras da boa investigação em grupo. As regras de boa educação (pedir licença, dizer obrigado...) ajudam a melhorar a convivência social, já as regras da boa investigação auxiliam para a melhor aprendizagem grupal. Por isso há uma insistência para que as crianças, os adolescentes e os jovens observem as regras básicas para poder haver uma discussão, uma investigação na Comunidade de Aprendizagem Investigativa, que no momento da discussão passa a ser uma espécie de assembléia que está deliberando sobre determinado assunto. São as regras básicas: levantar a mão esperando sua vez de falar, ouvir o que os outros estão dizendo, falar em bom tom para que sua idéia seja ouvida por todos, concentrar-se naquilo que está sendo proposto, respeitar as ideias dos outros para que as suas sejam respeitadas.
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